segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Nem Jesus resistiu...

Naquele tempo Jesus subiu ao monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. depois tomando a palavra, ensinou-os, dizendo:
- Em verdade vos digo, bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; bem-aventurados os misericordiosos, porque eles...
Pedro interrompeu- Temos que aprender isso de cor?
André disse- Temos que copiá-lo para o papiro?
Simão perguntou- Vamos ter teste sobre isto?
Tiago, o Menor queixou-se- O Tiago, o Maior está sentado à minha frente, não vejo nada!
Tiago, o Maior gritou- Cala-te queixinhas!
Filipe lamentou-se- Esqueci-me do papiro- diário.
Bartolomeu quis saber- Temos de tirar apontamentos?
João levantou a mão- Posso ir à casa de banho?
Judas Escariotes exclamou ( Judas Escariotes era mesmo malvado, com retenção repetida e vindo de outro Mestre)- Para que serve isto tudo?
Tomé inquietou-se- Há fórmulas? Vamos resolver problemas?
Judas Tadeu reclamou- Podemos ao menos usar o ábaco?
Mateus queixou-se- Eu não entendi nada... ninguém entendeu nada!

Um dos Fariseus presentes, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada, tomou a palavra e dirigiu-se a Ele, dizendo:
- Onde está a tua planificação?
Qual é a nomenclatura do teu plano de aulas nesta intervenção didáctica mediatizada?
E a avaliação diagnóstica?
E a avaliação institucional?
Quais são as tuas expectativas de sucesso?
Tens a abordagem da área em forma globalizada, de modo a permitir o acesso à significação dos contextos, tendo em conta a bipolaridade da transmissão?
Quais são as tuas estratégias conducentes à recuperação dos conhecimentos prévios?
Respondem estes aos interesses e necessidades do grupo de modo a assegurar a significatividade do processo de ensino-aprendizagem?
Incluíste actividades integradoras com fundamento epistemológico produtivo?
E os espaços alternativos das problemáticas curriculares gerais?
Propiciaste espaços de encontro para a coordenação de acções transversais e longitudinais que fomentem os vínculos operativos e cooperativos das áreas concominantes?
Quais são os conteúdos conceptuais, processuais e atitudinais que respondem aos fundamentos lógico, praxeológico e metodológico constituídos pelos núcleos generativos disciplinares, transdisciplinares, interdisciplinares e metadisicplinares?
Caifás, o pior dos Fariseus, disse a Jesus:
-Quero ver a avaliação do primeiro, segundo e terceiro períodos e reservo-me o direito de, no final, aumentar as notas dos teus discípulos, para que ao Rei não lhe falhem as previsões de um ensino de qualidade e não lhe estraguem as estatísticas do sucesso. Serás notificado em devido tempo pela via mais adequada. E vê lá se reprovas alguém! Lembra-te que ainda não és titular e não há quadros de nomeação definitiva!
... E Jesus pediu a reforma antecipada aos trinta e três anos!

Angústia para o jantar (7)

Duma revista cinéfila, o testemunho de dois grandes do cinema:



"Todos achariam a própria vida muito mais interessante, se deixassem de a comparar com a vida dos outros."

Henry Fonda



"Vista de perto a vida é uma tragédia, mas vista de longe parece uma comédia."

Charlie Chaplin



E a "visão" de dois escritores:



"Há uma grande diferença entre lutar para não morrer e lutar para viver; entre lutar para salvar a vida e lutar por conservá-la."

Curzio Malaparte



"Ser ou não ser, eis a questão."

Shakespeare

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A ética na organização

História hilariante a do "Bode do Chico das Cabras", tão bem narrada pelo Luís Gonçalves. a quem saudamos respeitosamente. Eu, que até já fui funcionário público, conhecia algumas histórias, mais ou menos semelhantes a esta e de todo, não me senti ofendido, até porque o narrador teve a preocupação de situar a história "no tempo em que os animais falavam", tempo esse muito anterior ao tempo do meu "funcionalismo".
Esta, como muitas outras fábulas, merecem a nossa reflexão.Pois aqui vão as minhas considerações.
A ética como "ciência relativa aos costumes", entende-se não como as regras impostas pelo meio exterior, mas sim as impostas em termos do desenvolvimento pessoal de cada um de nós. Está subjacente à natureza humana que o homem é um ser em contínua aprendizagem, seja de conhecimento, de valores ou de atitudes, e assim a ética ajuda-nos a que essa aprendizagem contribua para nos melhorar como pessoas.
De uma forma geral, a ética de uma organização, pública ou privada, é um conjunto de regras impostas aos que dirigem e aos que trabalham na dita organização. No desenvolver do nosso crescimento cognitivo, adquirimos algumas aptidões, virtudes, valores e atitudes, que vão condicionar e regular a nossa conduta diária. ou seja, na prática a ética explica como devemos comportar-nos para conduzir a nossa vida, de modo que "no final tenha valido a pena vivê-la".
Numa organização, a éticá fará sempre falta e a organização pode sempre fazer melhor, dependendo da equipa humana que a compõe.
Porque é então necessária a ética? Porque "1º os homens e mulheres que a dirigem e trabalham nela, têm o direito e ao mesmo tempo o dever, de se comportarem eticamente dentro dela; 2º a organização condiciona os comportamentos individuais que, se não se rege por critérios éticos, pode acabar tornando-se impossível o desenvolvimento moral das pessoas; 3º uma organização em que não se viva um clima ético acabará defraudando os seus objectivos como organização".
A tarefa de dirigir começa com o determinar objectivos, que não são mais que os resultados que se pretendem alcançar. Para que tal aconteça, há que realizar todo um trabalho de coordenação das acções da equipa humana envolvida no alcançar dos objectivos definidos e acaba na tarefa de motivar cada um dos membros da equipa, para que a acção individual de cada um permita atingir o propósito final.
Não chegam, porventura, os incentivos económicos ou sociais, é necessário conseguir que todos sejam capazes de descobrir as necessidades reais das pessoas e pô-las como objectivo das suas acções concretas. Por conseguinte, pessoal automotivado, não só desenvolve conhecimentos e capacidades, que os levarão a melhorar a qualidade dos processos de trabalho, como serão capazes de agir de acordo com as necessidades reais dos colegas, dos subordinados e do público. Com uma organização e pessoas éticas,estão reunidas as condições para desenvolver a qualidade dos seus serviços.
Em resumo: " por um lado a ética avisa-nos: não faças mal, porque te destróis como pessoa- é a ética das normas (negativas). Porém, a partir daqui, surge-nos um vasto campo de acção: faz o bem, actua: age de forma total e melhora a tua actuação. Esta é a ética dos bons, E quando esses homens e mulheres, à força de agir, de actuar bem, cada dia melhor, contando mais com as necessidades dos demais, adquirem virtudes, comportarem-se eticamente serás mais fácil para eles- é a ética das virtudes."
Mais: " a ética permite-os entender aspectos da realidade, que sem ela escapam-nos. Um dirigente ético entende as motivações dos seus fucionários, enquanto eles agem não só pelo seu salário, promoção ou satisfação, mas também por motivações mais profundas. E essas motivações, uma vez adicionadas à sua maneira de ser e de trabalhar, quando se convertem em virtudes, quer dizer, em hábitos de operação que se manifestam na sua actuação, que asseguram a manutenção da unidade da organização, que se fomentará a confiança mútua entre os seus membros, que se terá em conta as necessidades reais do público, etc, ... e tudo isso independentemente do que se gosta, ou não, e do que se lhes pague, ou não, por isso."
Já viram o que dá reflectir sobre fábulas? Desculpem, mas chiça para o bode!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Angústia para o jantar (6)

" As coisas que mais importam nunca deviam estar à mercê das coisas que importam menos."



Goethe

Congratulamo-nos

1º- Para anonynimus, "cobardes" e "pouco sérios" (?), começamos a ver com uma certa preocupação, mas também com alguma alegria, algumas similitudes entre o Trêsbicas e este modesto blogue.

A semelhança (veja-se o penúltimo post do Fernando Morais), começa nos temas e nas ideias e até, mais ou menos, a abordagem e forma como são tratados, apenas não coincidentes no tempo. Já agora o apelo ao "basismo" partidário, achamos extraordinário.



2º- Apraz-nos constatar que no último mês, o livro mais solicitado na Biblioteca Municipal foi ... "O Príncipe", de Nicolau Maquiavel.

Recomendamos algum cuidado na sua leitura, visto que Maquiavel escreveu-o e dedicou-o, a dois príncipes (tendo morrido o primeiro e subido à governança o segundo, não esteve de modas, e retirou a primeira dedicatória e dedicou o livro ao segundo) da casa de Médici, Florença, com o intuito de obter alguns favores pessoais, que nunca chegou a alcançar.



3º- Do Dicionário Porto Editora, maquiavelismo - doutrina segundo a qual ao príncipe ou ao estado é lícito recorrer a todos os meios para alcançar os seus fins; maquiavélico - alguém que mente e engana apenas para atingir e manter o poder.

Pro bono

Por motivos pessoais graves, lamentavelmente só hoje nos é possível voltar ao convívio de quem nos lê, se é que existe alguém.

Pelas razões invocadas, não estive presente na sessão da posse do novo elenco governativo, pelo que tive de me socorrer da informação regional e de amigos, para aqui tecer alguns comentários.

Sala cheia é algo que me satisfaz e um bom pronúncio de que a democracia está viva e participada.

Não escondo que me assustei, quando li na imprensa que Fernando Moleirinho disse "tudo o que lhe vai na alma", pois sem mais nada ter lido, pensei que teria mandado às urtigas a ideia de ser o "Presidente de todos os Sardoalenses" e teria entrado pelas picardias do costume.

Mas lendo o desenvolvimento da notícia sosseguei, pois para além de fazer uma leve, mesmo muito ligeira e ao seu gosto, retrospectiva do passado e identificar as dificuldades, algumas inultrapassáveis, com que sempre se debateu e confrontou, tais como a interioridade e os parcos recursos financeiros, lá foi avançando com algumas das suas bandeiras eleitorais: fixação da população e empresas, criação de emprego, turismo e reforço da acção social, sem tirar uma nova carta da manga, o que foi pena.

Se até agora o acusavam de durante meses e meses não pôr os pés nas reuniões das estruturas intermunicipais e, por conseguinte, ficar a "ver navios", agora, relativamente às mesmas promete ser "membro de pleno direito". Mas não era isso que se pretendia, por direito próprio quando ingressou nas referidas estruturas? Vai tarde, mas ainda bem que já viu que o "orgulhosamente sós", ou melhor dizendo "a falta de rasgo" é coisa que dá maus resultados.

Terminou bem o seu discurso, com o apelo à Oposição, para "despir a camisola e embrenhar-se na resolução dos problemas do Concelho". É um bom desafio que faz à Oposição responsabilizando-a no seu papel de Oposição construtiva, sem lhes acenar, ao contrário de muitos, com ofertas sem cabimento. Agora esperamos que do lado do Fernando Moleirinho, ocorra o mesmo "despir de camisolas", pois a "partidarite" é um mal geral. "À mulher de César não basta ser séria, tem que parecê-lo" e este apelo à união de esforços, em vez da confrontação, ficou-lhe bem.

Modéstia à parte o nosso guião, apresentado em "Dicas para um discurso" foi, com algumas omissões importantes, mais ou menos seguido à letra.

Nestas coisas falta sempre algo e quanto a nós, ficou em falta a aposta no fomento e valorização da massa crítica dos munícipes, de forma a que, naturalmente, vão surgindo novos líderes de opinião, válidos e credíveis, dispostos e capazes de apostar no desenvolvimento do Concelho e da região.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Angústia para o jantar (5)

"Por esse tempo, ou já muito antes, comecei a ser considerado um tipo insociável. (...) Tudo me servia para exagerar a brusquidão, talvez porque toda a gente reparasse nela e a censurasse, e a minha rebeldia agreste contra fosse lá o que fosse manifestava-se, provocante, tanto mais quanto os outros a receavam. Era eu a açulá-los ao espectáculo, a colocar-me no centro desta arena improvisada que é a vida."



in "Domingo à tarde", Fernando Namora